Vale Sagrado

Este lindo vale que  tem inicio próximo a Cusco e segue até a região de Machu Picchu sempre foi muito especial para o povo Inca. Seu micro clima o tornava ideal para o plantio e suas altas montanhas, um lugar propício para as fortificações e celeiros. Hoje vamos caminhar por suas trilhas, conhecer suas ruínas e aprender sobre seus costumes. Bem vindo ao Vale Sagrado dos Incas.

 

O Vale Sagrado foi formado pelas águas do rio Urubamba e tem este nome desde os tempos do império Inca. Acontece que o rio corre exatamente na mesma posição da Via Láctea, como se fosse um espelho da mesma. Assim, os Incas entendiam que o Vale era o reflexo do céu (da Via Láctea) na terra. Por isso o nome de Vale Sagrado. O assunto era levado tão a sério, que cada vila do Vale representava uma estrela ou constelação do céu. A vila de Ollantaytambo, por exemplo, representava a constelação do Lhama. Mas existiam outras como a do Sapo, da Serpente e do Condor.

O Vale Sagrado dos Incas é um dos lugares mais belos do estado de Cusco. Possui um micro-clima único que mantém a temperatura amena durante todo o ano permitindo assim o bom desenvolvimento da agricultura.  Um dos lugares mais visitados desta região é a feira de Pisac, a mais tradicional do vale. Ela acontece semanalmente há mais de 300 anos. Sua parte externa está voltada ao artesanato, enquanto o centro é ocupado pela troca e venda de produtos agrícolas. O “Trueque”, como é chamado o intercambio de alimentos e animais, é feito por pessoas de várias comunidades que se reúnem aqui várias vezes por semana. Um saco de milho por uma cabra. Um quarto de ovelha por um saco de batatas e assim por diante. É na feira de Pisac que podemos ver a grande variedade de produtos cultivados no vale.  Espigas de milho multicores, dezenas de variedade de batatas, cereais que só crescem em grandes altitudes estão aqui, tudo exposto aos olhos do visitante.

É também na feira que, todos os domingos, os líderes de cada distrito de Pisac se reúnem para assistir a missa (falada em Quechua) e depois seguem em procissão até o teatro da cidade para resolver problemas da comunidade. Esta procissão é precedida por vários meninos, vestidos a caráter, todos soprando grandes conchas usadas como instrumentos musicais. Atrás deles, 15 homens vestidos com mantos coloridos e empunhando um bastão de prata e madeira, representando sua autoridade. Um espetáculo digno de ser acompanhado.

A cidade colonial de Pisac fica no vale, mas a cidade original fica no alto das montanhas, como a maioria das cidades Incas. Incrível como estes Incas adoravam uma caminhada montanha acima. Mas isto tinha uma razão. Construindo no alto das montanhas eles ficavam livres de enchentes, longe dos desmoronamentos, mais longe ainda dos inimigos e mais perto dos seus deuses: o Sol, a Lua, os raios e as próprias montanhas, chamadas de Apus. As ruínas de Pisac ainda conservam toda a estrutura de uma cidade Inca com áreas destinadas ao cultivo, moradia, culto e cemitério.

A 90 minutos de Pisac, em outra parte do vale, encontramos outra cidade Inca, a vila de Ollantaytambo ou Tambo de Ollanta (veja lenda abaixo). É uma cidade pequena que ainda conserva grande parte da sua arquitetura original. Possuem ruas estreitas, canais de água nas calçadas, cultivos em terraços e uma área religiosa. Esta última é conhecida como as Ruínas de Ollantaytambo e é composta por enormes terraços de cultivo, pelo Templo do Sol (inacabado) e pelo Templo das dez janelas. São ruínas impressionantes, imponentes e que requerem boas pernas para chegar ao seu topo.  É curioso que a pedreira de onde vinha todo o material não ficava próxima e sim no topo de uma montanha do outro lado do vale. Os Incas tinham que fazer uma viagem imensa, carregando grandes blocos de pedra para construir seus templos. Durante a jornada, muitas pedras caiam e se quebravam, sendo assim abandonadas no meio do vale. Hoje são conhecidas como Pedras Cansadas e marcam o caminho feito pelos antigos trabalhadores.

Próximo a região de Urubamba, outra comunidade do Vale Sagrado, dois lugares chamam a atenção do visitante. Um deles são as ruínas de Moray, um centro de pesquisa agrícola Inca. Quem chega aqui pela primeira vez fica impressionado, não só pelo tamanho, mas pelo formato singular destas ruínas. São dezenas de terraços circulares e concêntricos, todos feitos de pedra. Os Incas usavam estes terraços para fazer pesquisas sobre as plantas que cultivam e que traziam de outros lugares. Usando variações de terraços eles podiam mudar a altitude, a umidade, clima e a temperatura. Desta forma eles determinavam em que parte do seu reino estas plantas produziriam melhor. Coisa de gênio!
Perto de Moray recomendo visitar também as minas de sal de Maras. Neste grande vale, foram construídas mais de cinco mil piscinas de barro, que represam as águas de um riacho cujas águas têm uma concentração de 69% de Cloreto de Sódio.  Nestas piscinas o sal é extraído pelo processo de evaporação. Isto acontece aqui desde o século XII e ainda hoje cerca de 200 famílias se beneficiam desta atividade. Durante os meses de seca (Abril a Novembro), o vale fica todo coberto de sal branquíssimo, dando a impressão de que está coberto de neve. Surreal!

O Vale Sagrado é ponteado de vilas e coberto de plantações. É um lugar agradável para se passar um dia ou para descansar. Muitas atividades de aventura podem ser praticadas aqui como bike, caminhadas, cavalgadas e rafting. É um ótimo lugar para se conhecer a população local e seus costumes. Pernoitar no Vale depois de um dia de tour é também uma boa oportunidade para encurtar a viagem a Machu Picchu, o destino final de 99% das pessoas que visitam esta região. Enquanto os trens que partem de Cusco levam três horas para chegar a estas ruínas, o trem que parte de Ollantaytambo leva a metade do tempo. Visitando este vale, começamos a entender melhor esta impressionante cultura e concordamos com os Incas em chamar este belo lugar de Vale Sagrado. Boa viagem!

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Lenda Ollantaytambo

Conta a lenda a um soldado do império Inca chamado Ollanta se destacou tanto nas batalhas que foi alçado ao posto de general. Passou então a freqüentar a corte em Cusco e lá se apaixonou pela filha do Imperador, a princesa Kusicoyllor. Obviamente o imperador Pachacutec não ficou nada feliz com o namoro, pois o general era um homem do povo, de uma classe mais baixa. Perseguido pelo imperador, Ollanta fugiu com seus soldados para o Vale Sagrado e se refugiou na cidade que hoje tem o nome de Ollantaytambo (Pousada de Ollanta). O general ficou escondido ali por 10 anos até que outro general, chamado Rumiñawi, o encontrou, e depois de uma batalha o aprisionou. Ollanta foi levado para Cusco, mas para sua sorte Pachacutec havia morrido. O novo imperador não se opôs ao casamento e libertou o general. Finalmente Ollanta se casou com Kusicoyllor e viveram felizes.

Peter Goldschmidt
Peter é membro da Família Goldschmidt e diretor-consultor de turismo da agência Gold Trip. www.familiagold.com.br //www.goldtrip.com.br

 

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Cusco

Depois de quase 30 dias percorrendo as estradas do centro-sul do Peru, a Família Goldschmidt chega agora a sua região mais famosa, Cusco. Esta cidade e toda sua redondeza foi há mais de 500 anos o coração do império Inca. Nesta reportagem vamos descobrir sua história, visitar seus atrativos e explorar suas ruínas.

Assista ao vídeo:

 

A cidade de Cusco hoje tem mais de 300 mil habitantes e é um dos locais mais visitados por turístas em todo o país. No entanto, este fluxo de pessoas não é uma novidade. Durante centenas de anos, esta cidade foi o centro do Império de Tawantinsuyu, palavra Quéchua que siginifica “as quatro regiões”. Assim era conhecido o império que por mais de 100 anos dominou boa parte da costa oeste da América do Sul.

 

Cusco, sua capital, era o centro político e religioso e daqui saiam dezenas de caminhos para os mais distantes recantos do reino. Em 1.532, o conquistador espanhol Franscico Pizzaro invadiu e saqueou a cidade, destruindo as bases do império.
No entanto, muitos templos e palácios foram preservados e a história da civilização Inca, mesclada com a da conquista espanhola, pode ser vista ainda hoje nas construções, nos mercados e nos costumes da população cusquenha. Visitar esta cidade é viajar no tempo. É mergulhar em uma cultura que foi repassada de pais para filho por vários séculos.

Podemos dizer com segurança que os lugares mais emblemáticos de Cusco são dois templos: O de Koricancha é um deles. Este era o mais importante templo de todo império e nele eram aplicados todos os conhecimentos de matemática, física e astronomia que a civilização possuía. Seus muros eram cobertos de ouro e seu jardim era permeado de estátuas em tamanho natural representando pessoas, animais e plantas. Todas em ouro e prata. Com a chegada dos espanhóis o templo foi saqueado. Sobre suas paredes foi erguido um monastério em honra a São Domingos. Os invasores transformaram os templos em capelas e destruíram muitas de suas paredes. Hoje, as ruínas restantes e as fundações do templo, ainda permitem admirar todo o gênio destes hábil povo.
Na verdade, muitos edifícios de Cusco estão construídos sobre alicerces Incas. Os espanhóis logo perceberam que quando aconteciam tremores de terra, a arquitetura colonial vinha abaixo, enquanto as paredes Incas ficavam intactas. Então, os espanhóis começaram a usar as bases de templos e palácios para construir suas igrejas e casas. A Catedral de Cusco, outro ícone da cidade, é um exemplo dito. Só que aqui eles foram mais longe. Destruíram o Palácio de um rei Inca e depois usaram as pedras na Catedral. A riqueza desta igreja demonstra bem a quantidade de ouro e prata existentes na capital do império. Dentro dela podemos admirar enormes altares de ouro, prata, pedra e madeira, além de  centenas de quadros da escola de arte cusquenha.  É interessante também observar o sincretismo que houve entre a religião andina e o catolicismo. Muitas divindades Incas estão representadas em figuras de santos católicos. Em um dos quadros mais famosos da catedral, a Santa ceia, existem incluídos entre Jesus e os apóstolos, vários motivos indígenas como a constelação do Cruzeiro do Sul (sagrada para os Incas) e sobre a mesa um Cuy (porquinho da Índia), iguaria da região.
A praça da catedral, conhecida como Plaza de Armas é o centro da vida na cidade, cercada de restaurantes e agências de turismo. Logo atrás da Catedral começa o bairro de San Blas, considerado o reduto dos artesãos de Cusco. É um bairro antigo, formado por um labirinto de pequenas e acidentadas ruas, repletas de pequenos cafés, restaurantes descolados e lojas de arte e artesanato. Outro lugar muito visitado é o Mercado de Cusco. É um ótimo lugar para se conhecer o povo e seus costumes e ver o que comem, bebem e vestem. Também é um dos melhores lugares para se comprar artesanato e roupas de lã, normalmente mais barato que nas lojas do centro da cidade.

A cidade tem vários museus que exibem tanto arte cusquenha, como arte moderna. No entanto, para se conhecer melhor a cultura Inca e apreciar sua herança, sugiro visitar o Museu Inca, localizado próximo a praça principal. Ali, estão expostas de modo claro e cronológico toda a história desta civilização que foi considerada a maior da Américas.

A cidade Cusco está localizada bem no meio de um vasto sítio arqueológico, repleto de fortaleza, templos e palácios. Se houver tempo, vale à pena visitar cada um deles. Os principais são:

Saksawaman.
Este complexo religioso foi construído no alto de uma montanha, ao lado da cidade. Cusco, durante o Império Inca, tinha um plano urbano na forma de um Puma, animal sagrado da trilogia Inca (veja abaixo). A Avenida do Sol era a calda, o templo de Koricancha os órgãos genitais (fertilidade), a Plaza de Armas era o coração (poder) e Saksawaman era a cabeça. Estas ruínas chamam a atenção pelas gigantescas pedras cortadas com precisão, alguma com mais de10 metros de altura. Também existem 12 portas de pedra, praças e escadarias.  Na parte de trás das ruínas, perto de um anfiteatro encontramos algumas pedras que formam um escorredor natural e vários tronos escavados na rocha.
Qenqo (Quenco).
São as ruínas de um centro cerimonial, formado por labirintos (significado do seu nome) e grutas escavadas na rocha. Neste lugar se preparavam sacrifícios e as mumificações.
Puka Pukara.
O nome significa Fortaleza Vermelha. Era um posto de observação e controle para quem chegava à capital do império.

Tambomachay.
São as ruínas de um posto de controle, dedicado à água. As suas fontes e cascatas derramam água fresca sem interrupção há cinco séculos, sempre na mesma quantidade. Até hoje não se sabe a origem precisa desta água que é trazida por meio de aquedutos subterrâneos desde o alto de alguma montanha.
Pikillacta
Localizada à uma hora de Cusco, encontramos estas ruínas de uma cidade pré-inca pertencente à civilização Wari. Datada do século IX d.c., estas ruínas impressionam pelo seu tamanho e complexidade. Existiam ali mais de 10 mil casas, divididas em bairros fechados por muros, cada bairro com uma única entrada. Muitas das casas tinham dois ou três andares com pisos e paredes cobertos com barro queimado e gesso.
Tipon
Neste sitio arqueológico encontramos um conjunto de terraços agrícolas construídos durante o império Inca e preservados até hoje. É o único lugar onde se podem ver os canais hidráulicos em pleno funcionamento. O nome Tipon vem do Quéchua “Tinpuy”, que quer dizer, ferver. Uma referência às nascentes de água que borbulham no alto da montanha.

Podemos dizer que Cusco é uma cidade-museu. Não  só pela suas construções e ruínas, mas principalmente pela sua cultura e população. Aqui as heranças Incas estão presentes no dia a dia das pessoas e conhecê-las é um grande privilégio. Cusco também é o ponto de partida para quem deseja conhecer o Vale Sagrado e as ruínas de Machu Picchu. Mesmo assim, eu recomendo que você não a use apenas como ponto de parada e sim, separe de 2 a 4 dias para descobrir suas riquezas. Tenho certeza de que você não irá se arrepender. Boa Viagem!
Para saber mais sobre este destino entre no site da Gold Trip – www.goldtrip.com.br
Peter Goldschmidt
* Peter Goldschmidt é membro da Família Goldschmidt que desde 1999 viaja pelo mundo descobrindo e divulgando novos roteiros turísticos. É também diretor da agência de turismo Gold Trip.  www.goldtrip.com.br – (11) 4411-8254

* Trilogia Inca
A trilogia Inca é composta de três divindades: O Condor que domina o céu é a região dos deuses. O Puma, senhor da terra em que vivem os homens. E finalmente a serpente, a rainha das regiões inferiores onde estão os mortos. São considerados animais sagrados e estão representados em estatuas, decorações, relevos e pinturas. A Cruz Andina, inspirada no Cruzeiro do Sul tem três degraus de cada lado, representando cada um destes animais ou reinos.

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Puno e Lago Titicaca

Ilhas Uros – Lago Titicaca

A viagem da Familia Goldschmidt pelo Peru continua, desta vez visitando a região do lago Titicaca. Este é o lago navegável mais alto do mundo (3.812 metros) com 164 kms de extensão e 64 kms de largura. É dividido entre dois paises, Peru e Bolívia. Nesta viagem vamos conhecer a cidade de Puno, seus sitios arqueológicos e algumas de suas exóticas ilhas.

Assista ao vídeo:

 

Puno é a cidade base para quem deseja conhecer o lago Titicaca, o lago navegavel mais alto do mundo. A cidade tem hoje cerca de 120 mil habitantes e é conhecida como o centro folclórico do Peru. Isto acontece não só pela sua herança cultural, repleta de músicas e danças andinas, mas também pelo grande número de escolas e grupos de folclore espalhados pela região. Punoé um local histórico, inserido em um circuito arqueológico que se espalha por todas as margens do lago. Suas ruínas mais importantes são a de Chucuito, um tempo dedicado a fertilidade e as Chulpas de Sillustani, uma necrópole usada por reis Kolas e Incas. Nesta última existem torres funerárias de até 8 metros de altura espalhadas por um linda colina.

Toda a vida da cidade de Puno gira em torno do lago Titicaca. Do seu porto saem diariamente embarcaçoes de pesca, transporte e turismo com destino a várias ilhas do lago. As mais próximas e talvez as mais famosas são as ilhas flutuantes do povo Uros. Construídas em Totora, elas estão ancoradas apenas a meia hora de Puno. Vivem ali 1.800 pessoas, divididas em 70 ilhas familiares. Os Ursos são descendentes dos Uroitos, um povo que no século XV, mudou-se da terra para dentro do lago. A principal matéria prima para os Uros é a Totora, uma espécie de junco que cresce nas margens do lago Titicaca. Eles usam a Totora para construir suas ilhas, suas casas, fazer seu artesanato e até na sua alimentação. Além da Totora os Uros vivem da caça, da pesca e mais recentemente do turismo. Eles descobriam como seu estilo de vida pode ser atraente para os “gringos” e descobriram nesta atividade uma nova fonte de renda. Cada ilha é divida em famílias ou grupo de famílias. As casas são móveis, o que facilita as mudanças em caso de briga entre vizinhos. Em alguns casos, as ilhas podem até ser divididas e separadas. Muito prático!

Outra ilha muito visitada é a Taquile, a apenas 2 horas de meia de navegação desde Puno. Taquile é uma ilha rochosa e sua vila principal fica 190 metros acima do lago. Para chegar até ela existem dois caminhos: uma escadaria com 538 degraus que leva direto a vila ou uma trilha de quase 3 quilômetros, com subidas suaves que passa por fazendas e pequenas comunidades. Escolhemos a segunda, pois seria mais fácil evitar o mal da altura. Conforme subíamos, encontramos muitos taquilenhos fazendo suas atividades diárias que são basicamente a agricultura e o artesanato.  Seus trajes logo nos chamaram a atenção pois são diferenciados conforme o estado civil de cada um. As mulheres casadas normalmente se vestem com saia preta e blusa de cores sóbrias. Sobre a cabeça levam um xale de lã negro. As moças solteiras também usam o xale, mas suas roupas são de cores vivas e com enormes e coloridos pompons nas pontas do xale. Todas usam de 5 a 6 saias, uma por cima da outra. Os homens em geral usam calça e colete pretos e uma cinta larga e colorida na cintura. Junto à cinta levam uma bolsa onde carregam as folhas de Coca. A diferença entre solteiros e casados está no gorro. Os solteiros um gorro branco e vermelho e os casados um gorro vermelho. Se o homem solteiro está comprometido usa o pompom do gorro para o lado. Se está disponível, usa o pompom para trás. Achei o costume bem prático e que com certeza evita muita confusão.

Por falar nisto, confusão é muito rara na ilha. Os Taquilenho tem um conjunto de três leis básicas herdadas dos antepassados Incas. São elas:
Ama Sua – Não seja ladrão.
Ama Kella – Não seja preguiçoso.
Ama Llulla – Não seja mentiroso.

Além disto, o principio de companheirismo e da reciprocidade são muito fortes na comunidade. Se alguém precisa de ajuda, todos colaboram. Cada comunidade tem um presidente a quem todos os conflitos e necessidades são apresentados. Como sinal de sua autoridade, estes chefes usam um gorro colorido sob um chapéu escuro. Todos os Domingos, depois da missa, os presidentes das diversas comunidades se reúnem com o prefeito (eleito por 4 anos) e discutem a solução dos problemas. Nunca terminam a reunião sem dar uma solução a cada caso. Isto ajuda a garantir um clima de paz na ilha. A comunidade de Taquile também é muito saudável. Existem poucas doenças e a média de vida é uma das mais elevadas do Peru, chegando aos 85 anos. Isto se deve muito a vida tranqüila e ao fato de 98% das pessoas daqui serem vegetarianas. Os animais da ilha são usados para a agricultura, para tirar leite e lã.

A região de Puno e do lago Titicaca é um destino que pode ser visitado durante todo o ano. As maiores chuvas acontecem entre janeiro e fevereiro e o inverno é bem frio

Lenda –    Manco Capac e os Taquile
Conta a lenda que o império Inca surgiu quando o primeiro rei, Manco Capac, filho do deus Sol imergiu do lago Titicaca. Ao seu lado surgiu também Mama Ocllo.  Antes de irem a Cusco, onde fundariam sua capital, fizeram uma parada na Ilha Taquile. Mama Ocllo ensinou as mulheres a fazer fios, a cozinhar e cuidar de suas casas. Manco Capac ensinou aos homens a agricultura e também a tecer. Tudo isto sob uma condição. Os conhecimentos sobre a tecelagem nunca deveriam deixar a ilha. Por isto, até hoje são os homens que tecem em Taquile e seu artesanato é diferente dos outros na região de Puno.

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Peter Goldschmidt
Peter é membro da Família Goldschmidt e diretor-consultor de turismo da agência Gold Trip. www.familiagold.com.br //www.goldtrip.com.br

 
   
   
   
   
   

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Arequipa e Canion de Colca

 


Arequipa e Canion de Colca

Continuando nossa viagem pelo Peru, vamos visitar hoje dois destinos muito interessantes. O primeiro deles é Arequipa, a segunda maior cidade do Peru, com 850 mil habitantes. Uma jóia da arquitetura colonial em meio a Cordilheira dos Andes. Nossa outra parada será no Cânion de Colca, considerado o segundo cânion mais profundo do mundo e lar do místico Condor. Bem vindo a bordo!

 

 

Arequipa

Arequipa foi fundada em 1540 e é uma das cidades mais antigas da América do Sul, palco de revoluções e conflitos. Sua principal característica é a bem preservada arquitetura colonial dos séculos XVI e XVII, apesar da cidade ter sofrido vários terremotos. Arequipa possui mais de 39 igrejas ricamente decoradas. Muitos dos seus altares são cobertos de folhas de ouro (chamadas de Pan de Oro), além de imagens barrocas e altares de prata pura. Suas ruas são estreitas, repletas de casas coloniais e sacadas.  Arequipa é também conhecida como “Cidade Branca”, pois grande parte de suas construções foram feitas usando uma pedra vulcânica esbranquiçada chamada “Sillar”, encontrada em dois vulcões da região. Esta pedra tem a vantagem de ser muito resistente e ao mesmo tempo fácil de ser trabalhada. A igreja de Yanauhara é um exemplo disto. Construída no século XVI, tem sua fachada toda decorada com figuras nativas, um estilo conhecido com Barroco Mestiço.

A praça central do distrito de Yanauhara é um ótimo lugar para se observar os vulcões que cercam a cidade, alguns deles com mais de seis mil metros de altura. Dentre estes vulcões podemos citar o Chachani, Pichu-Pichu e Misti, o mais próximo, estando a apenas 17 quilômetros da praça principal. Foi nesta praça que experimentamos o “Queso Helado Charito”, que de queijo (queso) não tem nada, só o formato. É um sorvete de baunilha com canela. O curioso é que o gelo onde é preparado é trazido diariamente do alto de um dos três vulcões mais próximos.

Um bom lugar para se fotografar a cidade e seus arredores é o mirante de Carmen Alto. Ali existe um pequeno mercado onde conhecemos dois produtos típicos do Peru. Um é a Maca, fruta produzida na floresta amazônica e depois transformada em licor, balas ou pó. É considerado o Viagra natural do Peru e muito consumida em todo o país. Conhecemos também o Cuy, um animal igual ao nosso porquinho da Índia, usado no Brasil como animal de estimação. Aqui, o “Cuy”, é uma iguaria gastronômica, muito consumida em festas tradicionais. A arqueologia comprova que seu consumo como alimento remonta a quatro mil anos atrás.

Caminhar pela cidade de Arequipa é fácil e muito interessante. Na Plaza de armas você pode se misturar com a população local e aprender muito sobre seus costumes. Veja alguns lugares que recomendo conhecer em sua visita a esta cidade:

Monastério de Santa Catalina
Uma verdadeira cidade entre muros. Construído apenas 10 anos depois da fundação da cidade, hoje cobre uma área de 20.400 metros quadrados. Por volta de 1650 era uma honra para as famílias coloniais ter uma filha religiosa. Por isto, pagava-se um grande dote à igreja para que as meninas pudessem se tornar freiras Dominicanas. Elas entravam no monastério com suas serviçais e ali ficavam reclusas até o final de suas vidas. Hoje o Monastério tem sua maior parte aberta ao turismo e apenas uma pequena aérea reservada às 24 freiras que ainda vivem ali.

Catedral de Arequipa
Um monumento digno de ser visitado. Construída em 1621, possui estilo Neoclássico e está localizada em frente a Plaza de Armas. Vários outros prédios coloniais e igrejas são encontrados ao redor da praça.

Museu Santuários Andinos
Também conhecido como Museu da múmia Juanita é um local de deve ser visitado. Ali estão expostas as múmias de 3 crianças encontradas congeladas no alto do vulcão Ampato. Uma das múmias foi apelidada carinhosamente de Juanita. Esta menina, que deveria ter entre 12 a 14 anos quando foi morta, foi deixada como oferenda no alto do vulcão há mais de 500 anos. Encontrada congelada em 1995 (junto com outros sacrifícios humanos), se tornou um dos maiores achados arqueológicos deste período. Sua fama correu o mundo e ela também. Juanita já foi levada para os Estados Unidos, Europa e até para o Japão.

Cânion de Colca

A base para se conhecer o Cânion de Colca é a cidade de Chivay, a cinco horas de carro desde Arequipa. A viagem para esta região é por si só um passeio, pois atravessa o altiplano passando por pequenas vilas, grandes formações rochosas e com paradas em várias feiras de artesanato.  No caminho pudemos observar vários animais típicos como as lhamas e vicuñas pastando nos vales verdes entre as montanhas calcinadas pelo sol.

O caminho, depois de ultrapassar uma cordilheira com cinco mil metros de altura, desce até a parte alta do Vale de Colca, a 3.300 metros. Ali está Chivay, uma autêntica vila andina com praça central, igrejinha, feira e mercado de produtos típicos. Na vila e em todo vale do Colca as mulheres se vestem de maneira tradicional. Usam quatro saias, dois coletes e um chapéu bordado. Tudo muito colorido. As que moram na parte mais alta do vale de Colca, usam chapéu de copa alta e motivos tirados da fauna e flora da sua região. As mulheres da parte baixa usam um chapéu com copa mais arredondada e de abas caídas. Os motivos dos bordados também são diferentes. Detalhe: As solteiras usam um adorno no lado direito do chapéu. As casadas usam dois, um de cada lado. Tenho certeza que isto evita muita confusão. Na cidade existe um conjunto de termas ao lado de um pequeno museu, o que ajuda e entender melhor a região e também a relaxar o corpo de depois da longa viagem.

A visita ao cânion fica para o dia seguinte a chegada em Chivay. Primeiro porque o caminho até a parte mais profunda do cânion e longo e sinuoso. Depois porque os condores, personagem central deste passeio, só aparecem no final da manhã. É muito mais difícil vê-los à tarde.

Durante a viagem ao local de observação, passa-se por várias vilas. Uma delas é o povoado de Yanque, ainda na parte alta do vale. Na praça central encontramos várias pessoas com trajes típicos esperando pelos turistas. Alguns deles dançavam Wititi (a dança do amor) ao redor de uma fonte. Esta dança representa uma lenda onde um general Inca se vestiu de mulher para raptar uma princesa do Colca. Outros moradores traziam seus animais de estimação para serem fotografados. Os animais de estimação deles são um pouco diferente dos nossos.  Eu tenho gatos e um cachorro. A senhora que fotografei tinha uma coruja e sua amiga uma águia andina. A maioria destes animais foi encontrada machucada ainda como filhotes e assim adotada pelas famílias.

Conforme se avança, o vale vai se tornando mais profundo e largo,  até se transformar no Cânion de Colca, que na sua parte mais profunda tem 4.280 metros deste o topo da montanha até o rio. Perto dali está a “Cruz del Condor”, um mirante natural considerado o local ideal  para se observar o vôo do Condor. O Condor é a maior ave do planeta com uma envergadura que supera os 3 metros e vive em média 70 anos. Vivendo nas regiões de altas montanhas ele praticamente não bate as asas, usando o vento e as correntes térmicas para planar. É um vôo majestoso e suave. O Condor está quase extinto em alguns países andinos, mas aqui no Cânion de Colca ele aparece com freqüência. O melhor horário para observá-lo é entre as 9 e 11 da manhã, horário em que as correntes termais emergem do fundo do vale.

Arequipa e o Cânion de Colca são destinos que podem ser visitados em três dias, embora eu recomende passar pelo menos um dia a mais na região. Para saber mais sobre este destino entre no site da Gold Trip – www.goldtrip.com.br

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Peter é membro da Família Goldschmidt e diretor-consultor de turismo da agência Gold Trip. www.familiagold.com.br //www.goldtrip.com.br

   
   
   
   
   
   

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Nazca

 

 

Peru – Nazca e suas misteriosas linhas 

Nossa viagem pelo Peru continua atravessando o deserto que cobre o sul do país. Nossa parada de hoje é em Nazca, uma cidade batizada com o nome da cultura que dominou esta região no primeiro milenio. O Povo Nazca nos deixou uma rica herança cultural, na forma de ricos tecidos, cerâmicas, piramides escalonadas e as impressionates linhas e desenhos espalhados pela árida planície.

A cultura Nazca floresceu no deserto aproximadamente em 100 a.C. e permaceu por mais 900 anos. Este antigo povo, versado na arquitetura e na astronomia deixou nas areias do deserto obras que resistem ao tempo e as intempéries. O clima seco, a ausência de chuvas e os ventos amenos preservaram sítios arqueológicos importantes como, por exemplo, Cahuachi, a capital do império Nasca, assim como as famosas linhas que cobrem quilômetros do deserto. Os Nazca logo descobriram que a água não corria por cima da terra e sim através de lençóis freáticos. Com muita técnica construíram aquedutos subterrâneos captando a água que descia das serras e as conduzindo para suas plantações e casas. Estes túneis foram construídos com pedras e cobertos por uma madeira muito dura chamada Huarango. Esta madeira é tão resistente que ainda hoje os aquedutos continuam a ser utilizados pela população e a madeira original continua firme, sem apodrecer. Para manter os canais abertos os Nascas construíram poços de manutenção em forma de espiral, facilitando assim o acesso aos túneis. Alguns têm até 12 metros de diâmetro e cerca de 5 metros de profundidade.

A herança mais famosa dos Nazca são sem dúvida as linhas e os desenhos feitos a cerca de 1.500 anos atrás e que se estendem por dezenas de quilômetros sobre uma planície seca e calcinada. As linhas e figuras geométricas são muito maiores do que os desenhos. Algumas linhas têm até 20 km de comprimento e ultrapassam a planície subindo e descendo montanhas. São perfeitamente retas e muitas delas se cruzam entre si. Alguns dizem que foram feitas por extraterrestre, mas a teoria mais aceita (e que também acredito) é de que algumas linhas (30% delas) apontavam para fontes de água, as figuras geométricas eram lugares de cerimônias religiosas e que os desenhos de animais e algumas linhas marcavam a posição do sol, da lua e das estrelas em diferentes épocas do ano, como os solstícios de verão e inverno. Com estas informações, os Nascas podiam prever as chuvas, ventos e consequentemente, saber a melhor época para plantar e colher. As figuras, geralmente bem menores (de 10 a 300 metros) estão espalhadas entre as linhas e parecem representar as constelações celestes. Elas são desenhadas uma única linha continua como se fosse um fio desenrolado sobre o chão. Há um só inicio e um só final. Muitos estudiosos crêem que os desenhos eram usados em rituais de adoração e sobre eles adoradores caminhavam em procissão homem após homem. Quando faziam isto, tornavam as linhas mais profundas e marcantes, agradando assim a seus deuses. Muito interessante!

A melhor maneira de se observar as linhas é certamente pelo ar. Por isto fomos bem cedo até o aeroporto da cidade e embarcamos em um monomotor para sobrevoar o Pampa de San José, a planície onde estão grande parte das linhas. São mais de 300 desenhos e figuras espalhadas por quase 500 km quadrados. Recentemente, foram descobertos ainda mais desenhos na planície da Palpa, à uma hora de vôo de Nasca o que aumenta ainda mais a área a ser estudada. Nosso sobrevôo se resumiu às linhas de Nasca e demorou cerca de meia hora. Pudemos observar de perto (a apenas 100 metros do chão) os principais desenhos e figuras de Nasca. O vôo não teve turbulência, mas as curvas fechadas que o pequeno avião faz para mostrar aos passageiros as linhas, não são para qualquer um. O nosso piloto, Capitão Ricardo, se mostrou muito habilidoso e capaz. Durante o vôo tivemos uma real noção da grandeza das linhas. Notamos que muitas delas foram apagadas pelo tempo e pelas raras pancadas de chuva. Assim mesmo, elas impressionam pela quantidade e precisão. Quanto aos desenhos, os mais interessantes foram às figuras do macaco, da aranha e do colibri. Muitas linhas e desenhos estão sobrepostos e as linhas mais longas sobem e descem montanhas, se estendendo por vários quilômetros. Sem dúvida o sobrevôo é a maneira de se observar as linhas. Para entendê-las melhor, ontem e hoje fomos conhecer as linhas de perto, desde o chão. Para construí-las, os Nascas retiraram a camada superior do solo removendo as pedras escuras que cobrem a superfície. As maiores linhas não têm mais do que 30 centímetros de profundidade. A camada inferior é mais clara do que a superfície escura e este contraste faz com que as linhas sejam visíveis a dezenas de quilômetros. Nesta altura, você deve estar se perguntando: Como elas sobreviveram 1.500 anos?  A explicação é que a ausência de chuvas, o que evita a erosão e os ventos amenos mantêm a superfície da planície sempre limpa de areia.

As linhas de Nasca foram descobertas no começo do século XX, quando os primeiros vôos comerciais atravessaram a região, mas só foram realmente estudadas com a chegada da matemática alemã Maria Reiche na década de 50. Maria dedicou quase 50 anos de sua vida ao estudo, preservação e divulgação deste impressionante sítio arqueológico. No inicio, ela vinha sozinha, onde passava vários dias no deserto fazendo medições e limpando as linhas com uma vassoura. O povo da cidade não entendia o que ela estava fazendo e a apelidaram de “Gringa Loca” por estar sempre varrendo a areia. Seu empenho e persistência foram recompensados. No final da sua vida ela já era reconhecida mundialmente como a “Dama das linhas” e considerada uma verdadeira heroína pelo povo peruano e pela população local. Sua pequena casa no deserto se converteu em um museu e varias ruas, prédios e até o aeroporto de Nasca levam seu nome. Foi ela que desenvolveu a teoria de que as linhas são um grande mapa astronômico representando constelações e marcando os movimentos dos astros. Seus últimos anos foram passados no Hotel Nasca Lines que lhe cedeu um apartamento. Hoje, o hotel possui um pequeno planetário onde todas as noites são feitas projeções sobre as linhas e o trabalho de Maria Reiche.

Não podemos deixar Nazca sem mencionar a necrópole de Chauchilla, também conhecida como cemitério de múmias. Nesta planície extremamente árida os Nascas, e depois a cultura Ica-Chincha, depositaram seus mortos na forma de múmias, todos envoltos em ricos tecidos e cercados por seus bens, cerâmicas e jóias. Infelizmente os ladrões de tumbas (Huequeros em espanhol) chegaram antes dos arqueólogos e todas as tumbas foram profanadas. Com isto, a maioria dos tesouros se perdeu e o que sobrou foram ossadas e tecidos espalhados por todo o vale. Os arqueólogos reuniram o que puderam e colocaram novamente nas tumbas, mas muitos ossos, tecidos e pedaços de cerâmica continuam espalhados pela areia. Hoje Chauchilla é o único museu de múmias a céu aberto no mundo.

Conheça também nossos Pacotes para Machu Picchu e Peru.

Peter Goldschmidt
Peter é membro da Família Goldschmidt e diretor-consultor de turismo da agência Gold Trip. www.familiagold.com.br //www.goldtrip.com.br

 

 

Página online: http://www.goldtrip.com.br/viaje-comigo-peru-nazca/

Ica e Paracas

 

Peru – Ica, Paracas e Ilhas Ballestas

Nossa expedição pelo Peru agora segue em direção ao deserto que cobre o sul do país. Neste trecho da viagem visitaremos a cidade-oásis de ica, suas vinícolas e a reserva de Paracas junto com as ilhas Ballestas. Preparado?
Então acompanhe abaixo os melhores momentos do nosso diário de bordo.

Ica
Hoje saímos cedo, mais uma vez atravessando o deserto, em direção a Ica, localizada uns 300 km o sul de Lima. Na verdade toda a costa peruana é um grande deserto com 2.700 km de extensão. Este deserto é cortado por 55 rios que formam grandes vales por onde passam. E como “onde há água há vida”, estes vales estão repletos de cidades e plantações de todos os tipos de frutas, verduras e legumes.

Ica está em um destes vales, habitado há quase 2 mil anos (pela cultura Paracas). Hoje, esta cidade cercada de dunas é reconhecida como produtora dos melhores vinhos peruanos. São mais de 80 vinícolas artesanais e 3 industriais. A mais conhecida delas é a Tacama. Usando técnicas de irrigação e água do subsolo, os peruanos transformaram areia em vinhos conhecidos em todo o mundo.

Aqui também é produzida a bebida nacional peruana, o Pisco, feito a partir da fermentação da uva. Visitamos a vinícola El Catador, considerada uma das melhores da região. Conhecemos todo o processo de fabricação, incluindo o lagar onde as uvas são pisadas, a prensa, os tanques de fermentação e de destilação. Apesar de não beber nada de álcool, achei o processo interessante. O nome Pisco vem de uma palavra Quéchua que quer dizer ave. Pisco também é o nome das jarras de cerâmica, de formato cônico onde a bebida era armazenada para a fermentação. Daí, por associação, surgiu o nome desta aguardente.

No caminho a Ica fizemos uma parada na cidade de El Carmen, a convite de nosso amigo César, da Fiesta Tour. Esta cidade é conhecida por ter a maior população negra do Peru. Apesar de ter sido colonizada por espanhóis, foram os portugueses que trouxeram para a região os primeiros escravos, vindo de Angola para trabalhar nas fazendas de algodão. Nesta cidade a cultura africana é preservada com orgulho. As danças e as músicas adaptadas à cultura peruana estão sempre presentes. Nas ruas e praças os meninos fazem exibições de sapateado (mesmo descalços) para os turistas. Foi em El Carmen que conhecemos a Família Ballumbrosio, cujo patriarca o Sr. Amador é considerado um ícone da cultura negra no país. Seus filhos e netos viajam o mundo difundindo as músicas e danças afro-peruanas. Um deles fez uma apresentação especial em sua casa com instrumentos típicos como a queixada de burro e o “Cajon”, uma caixa madeira oca usada como instrumento de percussão.

Paracas
Dormimos no oásis de Huacachina em Ica e saímos bem cedo em direção a Paracas (50 km), a mais importante reserva marinha do Peru. Embarcamos em uma lancha para conhecer as ilhas Ballestas, um santuário da vida selvagem. No caminho, fizemos uma parada para conhecer o “Candelabro”, um gigantesco desenho de 70 metros de altura feito na encosta de uma montanha. Ninguém sabe quem o fez, nem porque, só sabem que esta lá a mais de 500 anos. Por causa da terra calcinada, a ausência de chuva e da direção do vento a figura que parece um cactus, continua lá e serve como referência e guia para os pescadores da região.

Seguimos mais 15 minutos no barco até uma das Ilhas Ballestas, que como disse é uma reserva marinha. Ali, milhares, isto mesmo, milhares de aves se reúnem para se acasalar e criar seus filhotes. Nunca havia visto tantas aves juntas. Em alguns lugares não se via nem o chão, apenas uma massa negra que se movia de um lado para o outro. No céu, bandos e bandos de aves voam em todas as direções. Algumas em formações em V, outras de modo aleatório.  Pelicanos, gaivotas, cormoranes, enfim, um grande número de espécies dividindo os mesmos rochedos. A ilha é formada por um basalto vermelho e coberta por uma capa branca de excrementos de aves. Este, chamado de Guano, é um dos fertilizantes mais eficazes do mundo e também um dos mais caros.  São tantas aves (e tantos excrementos) que o Guano já foi, no passado, um dos principais produtos de exportação do país. Hoje as ilhas são protegidas e o governo só retira o Guano a cada 10 anos para evitar estresse nas aves. Além das aves, as ilhas Ballestas, também são o lar de uma grande colônia de leões marinhos e pingüins de Humboldt. Estes pingüins, menores do que os pingüins de Magalhães, só conseguem viver nesta latitude devido à corrente de Humboldt, uma corrente fria que vem desde a Antártida, seguindo a costa  oeste da América do Sul. Esta corrente é rica em fito plâncton, nutriente capaz de atrair grandes cardumes de peixes. Estes peixes, por sua vez, atraem as aves, os lobos e os pingüins. Terminado esta cadeia (de atração), estes animais nos atraem a nós, os turistas, prontos para registrar com nossas câmeras as belezas naturais da reserva de Paracas.

Terminado nosso tour, fomos até a cidade de Pisco, a que mais sofreu com o terremoto de 2007. Visitamos alguns bairros e vimos que um ano depois da tragédia ainda há muito que fazer. Ruas cobertas de entulhos, prédios com rachaduras e famílias vivendo em casas improvisadas são um retrato dos bairros mais atingidos. Creio que levará anos para reconstruir o que o terremoto levou minutos para derrubar.
No meio da tarde resolvemos conhecer o deserto por dentro. Para isto, embarcamos em veículos preparados para a areia, chamados aqui de “Tubulares”. O Peru tem 2.700 km de costa e grande parte dela coberta por desertos. Na sua maioria os desertos são rochosos ou de terra, mas aqui em Paracas, devido a vento constante, formam-se grandes dunas de areia. Pensei que seria um passeio tranqüilo pelas dunas. Ledo engano. Perto do que fizemos com estes carrinhos a montanha russa do Hopi Hari parece um carrossel. O “Tubular” subiam em alta velocidade as imensas dunas de areia, somente para descer (ainda em grande velocidade) dezenas de metros do lado oposto. Só vendo par crer. A habilidade do Mário, nosso piloto e dono da empresa, nos impressionou. Em determinado momento ele desceu conosco (para nosso pavor) uma duna de 150 metros em diagonal. Eu tinha a impressão de que o carro iria capotar a qualquer momento. Mas não, tudo foi calculado e planejado com antecipação. Apesar da extrema emoção os riscos são mínimos. Quando pensamos que tudo havia terminado, paramos no alto de uma grande duna e o Mario nos entregou pranchas de Sandboard. Todos descemos sentados e a uma grande velocidade. O Erick e a Ingrid tentaram descer em pé, mas tomaram tombos homéricos. Gravei tudo em vídeo e depois mostro para vocês.  Para terminar o passeio eu, a Sandra e o Erick descemos uma duna ainda maior, que tinha uns 140 metros de altura. Atingimos uma velocidade de 60 km por hora sentados em cima das pranchas. Todos chegaram sãos e salvos. Vocês precisam experimentar!

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Peter Goldschmidt

Peter é membro da Família Goldschmidt e diretor-consultor de turismo da agência Gold Trip. www.familiagold.com.br //www.goldtrip.com.br

 

 

 

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Hauraz

 

Peru – Huaraz e a Cordilheira Branca

Nossa viagem pelo Peru continua. Hoje vamos conhecer a região de Huaraz, onde está a cordilheira Branca. No caminho, fizemos um parada para conhecer Caral, uma das ruínas mais antigas de todo continente americano. Abaixo separei alguns trechos de nosso diário de bordo desta viagem feita em 2008. Espero que gostem. Boa viagem!

Ontem saímos muito, muito cedo de Lima em direção a Huaraz, capital da província de Ascash. Parte do caminho foi pela costa, passando por pequenas cidades e longos trechos de puro deserto. Em certo ponto, viramos em direção às montanhas com o objetivo de chegar a Caral, as ruínas da civilização mais antiga de que se tem notícia nas Américas. Descoberto nos anos 50 e explorada somente agora, Caral é um jóia arqueológica com 5 mil anos de idade e composta por 9 pirâmides escalonadas, a maior delas com quase 30 metros de altura. O lugar ainda está sendo escavado e a cada dia se fazem novas descobertas.

 

Huaraz está localizada no Callejon de Huaylas, um lugar onde a Cordilheira dos Andes de divide em duas. De um lado segue a Cordilheira Negra, com picos que se elevam até os 5.800 metros, todos sem neve. Do outro lado está a Cordilheira Branca com 32 picos acima dos 6 mil metros e coberta de neve eterna e glaciares. O mais alto deles é o Huascaran com 6.768 metros, a terceira maior montanha das Américas. Entre as duas cadeias de montanhas corre o rio Santa, que traz vida e prosperidade às inúmeras vilas do vale. A Cordilheira Negra é essencial para a existência da Branca, pois é ela que recebe e absorve o ar quente e salgado que vem do oceano. Quando recebe neve, esta não dura mais do que dois dias. Ela serve de proteção para a Cordilheira Branca onde a neve nunca desaparece.

Huaraz, a principal cidade do vale e capital do estado de Ancash tem hoje 80 mil habitantes. E a cidade base para as centenas de turistas que chegam para visitar a região ou para praticar escalada e trekking. São 38 diferentes trilhas que cortam cânions e vales das duas cordilheiras. Sentimos os efeitos da altitude assim que chegamos. O Soroche, com é chamado o mal das alturas, produz mal estar, enjôo, dor de cabeça e até desmaios. A melhor maneira de evitá-lo é fazer refeições leves, caminhar devagar, beber muita água e tomar constantemente o chá de folha de coca. Ao contrario do que muitos pensam, a folha de coca não é alucinógena e não tem efeitos colaterais. Pode também ser mascada. Usada a milhares de anos pelos povos andinos é praticamente uma instituição andina. Sem ela é muito difícil fazer alguma atividade por aqui.

Passamos por várias vilas, algumas delas com grandes feiras dominicais. Na vila de Yuncay, decidimos conhecer um delas e percorremos as barracas em busca de produtos da região e pessoas com vestimentas típicas para fotografar. Não era fácil, pois ou as pessoas viravam os rostos ou pediam “propina” (gorjeta) para se deixar fotografar. Mesmo assim conseguimos boas fotos. Descobrimos que as feiras não são feitas para turistas estrangeiros, normalmente mais altos que população local. A todo o momento eu ficava enroscado em tendas baixas e fios que cruzavam a rua a 1,70 m de altura (tenho 1,86). Tive que ter muita atenção para não levar um choque ou morrer enforcado. Em certo momento, vi uma senhora vendendo raspadinha de gelo. Até aí nada de mais. O inusitado é que o gelo não era produzido na cidade e sim trazido de um glaciar a quase 5 mil metros de altura. Retirado com picareta e transportado em lombo de burro, demorava 2 dias para chegar até a feira. Era um pedaço de gelo formado há centenas de anos que virava uma raspadinha de 80 centavos. Incrível!

Nossa visita à feira foi na verdade na vila de Nueva (nova) Yungay. A velha (Yungay) já não existe mais, se transformou em um enorme cemitério. Vou explicar: Em 31 de Maio de 1970 houve um grande tremor na costa peruana. Este tremor alcançou os Andes e causou vários desmoronamentos. O maior deles foi a queda de uma parte do cume do Huascaran. Em 5 minutos, uma torrente com 57 milhões de metros cúbicos de rochas, água e gelo desceu pelo vale arrasando tudo o que encontrava no caminho. E no caminho estava a cidade colônia de Yungay, na época com 28 mil habitantes. Em segundos tudo foi coberto por lama e gelo matando, quase que instantaneamente, 25 mil pessoas. Da cidade original, ironicamente, a única que sobrou foi o cemitério, construído em cima de uma colina. Ali foram encontrados cerca de 80 sobreviventes que tiveram tempo de se refugiar. Como não havia como resgatar os mortos, todos foram deixados no local onde morreram soterrados e a área da antiga cidade convertida em um gigantesco cemitério. Ao caminhar por entre as rosas plantadas e as cruzes colocadas sobre onde antes existiam casas, sentimos uma sensação estranha. Ainda se pode ver os restos da igreja e 4 das 36 palmeiras da praça principal enterradas sob 5 metros de terra. Um ônibus literalmente dobrado em dois é uma das poucas evidencias visíveis da força da natureza. Enormes pedras brancas trazidas do alto da cordilheira jazem por toda parte como testemunhas silenciosas da tragédia. Enquanto gravávamos a Sandra gritou: Avalanche! Olhamos para traz assustados a tempo de gravar uma enorme avalanche de gelo no cume do Huascaran. Ficamos em silencio e apreensivos enquanto víamos aquela enorme nuvem branca descer até a base do glaciar. Ufa, foi só uma pequena amostra do que aconteceu há 38 anos atrás.

Passado o susto, subimos em direção ao Parque Nacional Huscaran, mais precisamente a Quebrada de Llanganuco, entre o Huascaran e Huandoy com 5.793 metros. Subimos pelo vale por uma estrada sinuosa até 4 mil metros onde paramos em um mirante. Dali pudemos observar quatro grandes nevados, todos acima dos 6 mil metros e o vale abaixo com dois grandes lagos. Ao descer, notamos que por toda a volta havia grandes pedras que rolaram do alto dos paredões de granito durante algum dos vários terremotos da região. Passamos por um desmoronamento que havia matado 15 turistas Checoslovacos. No vale paramos em duas lagoas para fotografar e admirar sua beleza. A primeira foi Orconconcha, com águas esverdeadas e com muitas aves. A segunda, Chinanconcha, tinha águas azul-turquesa devido à sua origem glaciar. Pareciam pintadas no Photoshop. Suas margens estavam cheias de Polilephis, uma árvore andina também conhecida com árvores-folha, pois seu tronco descasca como folhas de papel.
Por volta das onze horas chegamos a Chavin de Huantar, onde estão as principais ruínas da civilização Chavin. Este povo foi a primeira civilização andina e surgiu por volta do ano 1.500 a.c. É considerada até hoje a civilização matriz de outras culturas andinas, inclusive dos Incas. Isto aconteceu porque os povos que viveram posteriormente absorviam os conhecimentos do povos conquistados, usando muitas das suas técnicas de arquitetura, assim como conhecimentos matemáticos e de astronomia.

As ruínas de Chavin de Huantar é a mais bem preservada, embora tenha sido muito danificada pelas intempéries ao longo dos anos. Chavin era um centro religioso e de peregrinação. O povo vinha até ela para apresentar oferendas e para saber previsões sobre a lavoura e a sorte. Os Chavin eram um povo religioso e destemido e ficaram conhecidos por não se entregar facilmente aos seus invasores. Suas gravuras mostram sacrifícios humanos, desmembramentos e mutilação de prisioneiros. As ruínas de seus palácios e cidades estão espalhadas principalmente pela região norte do Peru. A principal delas é a que visitamos hoje, o complexo arqueológico de Chavin de Huantar, repleto de labirintos, pirâmides e templos. Há muitas câmaras e passagens subterrâneas. Em uma delas encontramos o totem de um ídolo muito bem preservado. Uma das características destas ruínas é presença de “Cabezas Clavas”, figuras de pedra com feições felinas incrustadas nas paredes. Até hoje não existem pistas sobre as razões de sua decadência por volta do ano 500  D.C.

O dia começou com sol e logo cedo saímos para uma viagem de 80 km até o Glaciar Pasto Ruri, nossa última parada na cordilheira Branca. Assim que saímos da rodovia principal e entramos no desvio de terra, um imenso e verde vale pontilhado de carneiros e vacas surgiu à nossa frente. Começamos então a subir até a entrada do Parque Nacional Huscaran (Setor Carpa) que fica a 4.200 metros de altura. Entramos então em outro vale cercado de altas montanhas. Pelas marcas deixadas nas paredes rochosas (chamados de morenas) não foi difícil perceber que todo o vale havia sido esculpido pelo gelo de glaciares em um passado remoto. Viemos para este parque justamente para registrar como os glaciares e as neves eternas estão sendo afetadas pelo aquecimento global. A ausência de glaciares em algumas regiões do vale já denunciava que algo grave esta acontecendo.

Subimos pela estrada sinuosa até avistarmos o glaciar Huarapasca, com sua franja branca pendendo a 6 mil metros sobre o vale. Olhando a sua volta, logo notamos quanto ele recuou do seu tamanho original. Mesmo assim ainda é um espetáculo impressionante de se ver. A Sandra saiu do veiculo literalmente em lágrimas, emocionada com tanta beleza reunida em um só lugar. Eu fiquei tão desnorteado ao vê-la chorar que esqueci de gravar seu depoimento espontâneo, mas suas palavras irão ficar guardadas comigo para sempre.

Esta parte do Parque Nacional de Huascaran é bem diferente da outra que visitamos dias atrás em Yungay. Lá estávamos cercados de altas e imponentes montanhas, porém muito abaixo do nível da neve. Aqui, no setor Carpa a estrada segue na altura dos glaciares e muito mais perto do gelo. Desta maneira, podemos perceber toda a força da natureza contida nestes rios gelados. Para mim, a impressão causada por um glaciar é semelhante a de estar aos pés das Cataratas do Iguaçu, embora o glaciar expresse sua força em silêncio.

Seguimos cada vez mais para o alto até 4.800 onde tivemos que deixar nosso transporte. O tempo começou a esfriar, então compramos de uma vendedora local luvas e gorros.

O glaciar Pastoruri já era bem visível acima de nossas cabeças. Faltavam ainda quase 2 km de trilha e 200 metros de altitude para chegar até sua base. Já aclimatados, não tivemos problemas com a altitude. O tempo começou a fechar e para economizar tempo (e energia) alugamos cavalos para fazer parte do percurso. Depois de um ponto os cavalos não puderam mais seguir e completamos os últimos 600 metros a pé. Nesta altitude, este pequeno trecho nos tomou um tempo considerável, tanto porque tínhamos que caminhar lentamente para não sofrer as conseqüências do Mal da Altura (Soroche), tanto porque gravamos em detalhes toda nossa escalada.

No meio da caminhada começaram a cair pequenos flocos de gelo, o que foi uma surpresa a todos. Ninguém esperava por isto. Conforme avançamos os flocos começaram a aumentar e o vento soprar mais forte. Quando chegamos a base do glaciar a temperatura havia caído para 5 graus negativos e a neve caia em abundância. Vocês acham que alguém reclamou? Que nada, adoramos! Não contávamos com uma nevasca nesta viagem e nem com tanto frio. Apesar disto, estávamos bem preparados com nossas jaquetas da Timberland que provaram ser bem eficientes até em temperaturas negativas. Ninguém passou frio.

Debaixo da nevasca fizemos todas as gravações e fotos que precisávamos. Também verificamos o retrocesso deste glaciar que serve de referência para todos os glaciares do parque. Para você ter uma idéia, o glaciar Pastoruri tem perdido massa de gelo na razão de 10 metros por ano. Segundo os cientistas, esta média deve aumentar na próxima década chegando à marca de 20 metros por ano. Parece pouco, mas representa uma quantidade enorme de gelo. Neste passo o glaciar logo desaparecerá e com ele grande parte dos glaciares da Cordilheira Branca. Pudemos hoje ver “in loco” os efeitos das nossas atitudes em relação ao meio ambiente. Temos que reverter este quadro. Quero que meu neto um dia venha ao Peru e veja as mesmas belezas que estou presenciando hoje.

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Peter Goldschmidt
* Peter Goldschmidt é membro da Família Goldschmidt que desde 1999 viaja pelo mundo descobrindo e divulgando novos roteiros turísticos. É também diretor da agência de turismo Gold Trip.  www.goldtrip.com.br – (11) 4411-8254

 

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Lima

 


Peru – Lima, a cidade dos reis

Hoje damos inicio a mais uma série do canal Viaje Comigo. Nosso destino será o Peru, onde viajamos durante 35 dias. A expedição aconteceu entre Dezembro de 2008 a Janeiro de 2009. Nossa primeira parada foi em Lima, a capital do país e uma das maiores cidades da América do Sul. Abaixo faço uma seleção de alguns trechos do nosso diário de bordo, repleto de comentários e dicas de viagem. Vamos viajar? Então, Viaje Comigo!

Lima é uma cidade fascinante, movimentada e antiga. Sua história como cidade colonial começa a mais de 500 anos, mas sua história pré-colombiana vai muito mais longe. Começamos nossa visita pelo centro histórico.Visitamos a Plaza de Armas, onde estão representados os principais poderes do país, o Palácio Presidencial representando o governo federal, a prefeitura de Lima (a cidade mais importante) e a Catedral de Lima representando os peruanos católicos, quase 80% da população do Peru.

 

Visitamos também o Mercado de Surquillo, um dos muitos mercados populares de Lima, que contém um pouco de tudo o que é produzido no país. É uma boa maneira de conhecer os produtos locais e começar a pronunciar nomes estranhos (para nós) como Chirimoya, Lucuma, Granadillos e Tuna. No mercado também notamos uma grande variedade de batatas (original dos Andes) e espigas com milhos de todas as cores. Não sabia que havia tantas.

Almoçamos no museu Larco Herrera, um dos mais importantes da cidade. Construído sobre um antigo templo (ainda conservado no seu subsolo), o museu primeiro impressiona pelo lindo jardim. No portão de entrada a Ingrid encontrou um cachorro estranho, sem pelos. Disseram-nos ser uma raça natural do Peru, antiga e quase em extinção. O museu tem peças de cerâmica representando quase todas as civilizações que já habitaram o Peru. Há também um cofre especial com peças de ouro e prata, também visitamos o depósito do museu que está aberto a público. Todas as salas estão cheias de prateleiras lotadas de vasos antigos que chegam até o teto. Estes vasos são especiais, pois são um espécie de enciclopédia das antigas culturas. Neles estão representados pessoas, frutos, animais e costumes das civilizações do norte do Peru como os Moches e os Chavin. O museu reserva uma sala somente para os vasos com motivos eróticos cujas fotos não podem ser mostradas neste horário.

E já que estamos falando de esportes radicais, a Ingrid resolveu aproveitar a ocasião para realizar um antigo sonho, voar de paraglider (ou parapente). As falésias em Miraflores são ideais para o vôo em lift, quando o vento que sobe da costa mantém o paraglider voando. Na rampa de decolagem conhecemos Max Leon, um dos organizadores do esporte na cidade. Ele se ofereceu para fazer um vôo duplo com nossa filha. Depois de decolar, eles voaram durante uns 20 minutos pela costa, passando por cima do Larcomar e também dos hotéis na costa. Quando ela voltou tinha o rosto brilhando de tanta alegria. Foi um lindo batismo. Se um dia você vier a Lima, também poderá voar, basta vir até a rampa de decolagem perto da praça dos amores e falar com o Max ou um de seus amigos.

A tarde estivemos na Huaca Pucllana, uma pirâmide cerimonial construída com tijolos de adobe (mistura de barro e palha). Esta construção de 1.700 anos só resistiu aos terremotos e as intempéries por seu estilo único de construção. Ao invés de colocar os tijolos deitados, eles foram colocados na vertical, como livros em uma estante, um ao lado do outro. Este tipo de construção absorveu o impacto dos tremores comuns nesta região e permitiu que resistissem até os dias de hoje.

No por do sol, estávamos em San Isidro, um dos bairros mais nobres da cidade. Na região existe um clube de golfe, hotéis luxuosos, lojas de grife e um parque com oliveiras plantadas pelos colonizadores espanhóis há quase 400 anos. Apesar de ser um parque (enorme), existem casas em estilo europeu espalhadas entre as oliveiras que ainda produzem azeitonas duas vezes ao ano.

Temos dormido pouco e isto, associado ao calor do verão e o agito da cidade nos tem cansado bastante. O barulho é constante. Aqui todos buzinam o tempo todo, por todas as razões, sempre e o tempo todo (acho que já falei isto). Creio que é um esporte nacional. E quem não buzina, apita. Os guardas nos parques, os de trânsito, os seguranças das lojas. Todos. Acho que quem não pode comprar uma buzina, compra um apito e se vira com ele.

Outro dia visitamos o bairro chinês. Não sabia que havia tantos chineses em Lima. Creio que é a maior colônia estrangeira no Peru. Eles chegaram em 1849 para trabalhar na agricultura e não saíram mais. Hoje seus descendentes estão espalhados por toda a cidade, mas se concentram especialmente em Chinatown, com suas ruas tipicamente decoradas, lojas de importados e restaurantes. O piso da rua principal foi todo feito com lajotas doadas pelos limenhos durante as comemorações dos 150 da comunidade. Da mistura da cozinha oriental com os ingredientes peruanos fez surgir as Chifas, restaurantes que são uma verdadeira mania dos limenhos. Pratos orientais com o tempero da região. Hummmmmm!

Visitamos também Pachacamac, um centro cerimonial da civilização Lima, datado do ano 300 D.C. Pachacamac era o deus supremo, criador de tudo e de todos. O interessante é que cada civilização que os sucedeu em Lima continuou a adorar o seu próprio deus no mesmo lugar, sem destruir os antigos templos. Os últimos foram os Incas que ergueram o maior e mais alto dos templos dedicado ao deus sol. O resultado é um complexo gigantesco, cuja grande parte ainda esta enterrada.

Tivemos também o “privilégio” de experimentar uma iguaria de Huancayo, uma província nos Andes, o Suco de rã, considerado fortificante para os ossos e músculos. Em um liquidificador foram acrescentados suco de Maca (considerado afrodisíaco), mel, algarrobina (extraído de uma árvore do deserto) e obviamente uma bela e fresca rã. Tudo é batido por alguns minutos e servido quente. Agh! Não foi fácil encarar, mas eu e a Sandra cumprimos a tarefa e tomamos a bebida anfíbia. Agora ninguém me segura!

Almoçamos em um dos restaurantes mais famosos de Lima, o Rosa Náutica, construído sobre um píer de madeira. Dentre os pratos que nos foram servidos estava o Ceviche, estrela da culinária peruana. Trata-se de pedaços de peixe curtidos no limão e servidos acompanhados de batata doce, milho branco, cebolas cruas, algas marinhas e rococó, parecido com nosso pimentão vermelho. Forte, porém saboroso. Aproveitamos para conhecer a praia dos Limenhos, feita de pedras e não de areia. Uma boa parte da costa é ideal para o surf, praticado por muito locais mesmo nas águas frias da corrente de Humbolt.

Hoje quero escrever sobre um dos mais recentes atrativos turísticos de Lima, o Parque da Reserva ou Parque das fontes Mágicas, com é chamado pela população. Neste complexo em pleno centro limenho, foram instaladas 12 gigantescas fontes de vários formatos, estilos e cores. Algumas delas são interativas, com a Fonte Túnel onde você caminha por dentro de um arco de água ou a Fonte das Crianças, cujo objetivo é brincar e molhar-se nos jatos de água que saem de surpresa do chão. Existem fontes artísticas como a Pirâmide e também as que impressionam pelo tamanho. A maior delas atinge 80 metros de altura. No centro do parque esta principal de todas as fontes, com uma centena de metros de comprimento. Ali diariamente são apresentados espetáculos de música, cores e jatos de água. Projeções de motivos peruanos também são feitas sobre uma cortina d´água. Se um dia vier a Lima, não deixe de visitar o Parque da Reserva. Você vai adorar!

O almoço foi no restaurante Puro Peru (bairro de Barrancos) que tem um grande buffet de comida típica. Já havíamos provado muita coisa, mas ainda faltavam alguns pratos importantes. Dentre eles quero mencionar os “Anticuchos”, prato bem popular que consiste em um espeto com carne de coração de boi. Outro prato é a “Causa”, uma massa feita de batata recheada com carne, frango ou peixe. Entre as sobremesas provamos o “Suspiro Limeño” (com doce de Leite) e Mazamora Morada, uma gelatina feita com milho roxo acompanhado de canela e pedaços de frutas, uma delicia! Não poderia terminar sem mencionar os Picarones, um tipo de rosquinha frita que é servida com melado de Cana de Açúcar. Imperdível!

Fomos jantar no restaurante Junus (Miraflores) assistir a um show de dança folclórica. Dentre as várias danças apresentadas, duas nos chamaram a atenção. Uma foi a “Marinera”, uma dança originada a região de Trujillo (norte) e que tem uma versão Limenha. Nela, um rapaz com chapéu largo e uma moça com um lenço trocam cortesias e galanteios. Na dança original o homem monta um cavalo de Peruano de Paso e circula em volta da moça com destreza. Posso dizer que esta é a dança mais representativa do Peru. Outra dança que nos chamou a atenção foi a “Danza de las Tijeras” (tesouras), originária da região de Ayacucho. Acompanhados por violino e harpa, os bailarinos dançam levando na mão as lâminas separadas de uma tesoura. Com habilidade usam as partes como instrumento de percussão enquanto dançam. A dança representa uma disputa entre quem consegue fazer os movimentos mais estranhos tocando as tesouras sem perder o equilíbrio. Impressionante!

Conheça nossos Pacotes para Lima e Machu Picchu.

Peter Goldschmidt
Peter é membro da Família Goldschmidt e diretor-consultor de turismo da agência Gold Trip. www.familiagold.com.br //www.goldtrip.com.br

 

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Vídeos Peru

O Peru é um país milenar que foi berço de diversas civilizações. Recentemente foram encontradas ali pirâmides com 5 mil anos de idade. Além disto, foi ali que surgiu a civilização Inca, que marcou e influenciou dezenas de culturas da América. Nos vídeos Peru você poderá conhecer os principais atrativos deste lindo país, conhecer suas paisagens e mergulhar em sua cultura. Lima, Machu Picchu, Cusco, Huaraz, Vale Sagrado, Nazca, Arequipa, Puno e o lago Titicaca são apenas alguns dos lugares que você irá conhecer nesta série gravada em 2008 e protagonizada pela Família Goldschmidt. Boa Viagem!

Lima-150x112 Lima h2-150x112Huaraz i44-150x112Ica e Paracas
 nazca-150x112 Nazca  Arequipa-Catedral1-150x112  Arequipa e Canion de Colca

 Puno-e-lago-Titicaca1-150x112 Puno e  Lago Titicaca

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